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_ermo [poema]

no mais supremo do ermo eu remo sem saber que se fosse pra ser mais do que deveria eu não remaria eu apenas seria
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_toda casa de esquina tem mais de um fantasma

TODA CASA DE ESQUINA TEM MAIS DE UM FANTASMA Prólogo Só no final da minha vida percebi que não precisamos estar sós para nos sentirmos abandonados. Não que estejamos realmente abandonados, mas apenas que nos sintamos abandonados. Essa curta e falha narrativa do que vivi é nada mais que uma história sobre uma casa e os fantasmas que a habitaram. Fantasmas que a vida, imprevisível, se encarrega de criar. O mais fantástico nisso tudo é que, no fim da picada, vejo que os fantasmas nunca estiveram dentro de outro lugar além de minha solidão. I O castelo Um dia percebi que além da janela de nossa caixa havia outras pessoas. Elas não transitavam pelas calçadas quebradas de meu bairro. Elas simplesmente abriam suas caixas e saiam com outras caixas que as levavam não sabia eu para onde. Papai me disse que elas iam trabalhar, assim como ele fazia todos os dias. Essa coisa das caixas foi ele que me explicou: as pessoas vivem em caixas maiores. Então

_a chuva [conto]

A chuva caía rala, molhando devagar as vagas plantas esquecidas no jardim. Lembrança. Anoto mentalmente: estou com saudades de alguém. Pela janela são visíveis as grades e os remédios de folhas largas já um pouco afogadas, esbranquiçadas pela água leve que insiste em entrar em minha memória. Domingo à tarde. Estávamos nus sobre um colchão fino que permitia nos espalharmos para além de seus limites sem sentir a transição. O enorme avarandado do sítio era infestado de plantas. No ofurô, uma hora antes, começamos algo que talvez não soubéramos ainda como terminaria. Cozinhamos nosso sexo na grande bacia oriental; nossa mestre-zen do prazer a longo prazo, ela costumava dizer. Era fim de março e, estranhamente, pouco chovera. Na floresta do alheamento meus sonhos eram permeados por uma sensação breve de umidade e pelos seios moles e quentes dela sobre meu braço. As nuances de cheiros passaram de sol e calor a uma apreensão da natureza, premeditação de chuva em abundância. Nos levantamos e,

_abandono [conto]

Nos abandonamos, finalmente, no dia em que ela soube que eu também sabia que precisávamos conversar. Na verdade, ela foi abandonada primeiro. Não era um jogo, era uma cena de um jogo. E a tática da melhor defesa vinha a calhar, enfim, para quem não sabe como se defender no cara-a-cara. Até que não pudemos mais resistir e nos entregamos suavemente a uma conversa leve e franca, intensamente a um sexo voraz e tenso, demoradamente a um sono perturbado e solitário. Primeiro sentamos na beira do mar. Olhamos as estrelas e ela gostava de discutir sobre a imensidão. Minha idéia de que éramos um vírus, embasado no fato de que somos a única espécie que não se adapta ao meio, a deixou sinceramente perturbada. Perdemos horas tentando explicar um para o outro que estávamos abertos a qualquer tipo de idéias. E ganhamos admiração. Era carnaval, pessoas comuns se tornavam exóticas. Não houve luxúria, mas houve paixão. Sem exotismos. Nos perdíamos pouco, ainda, no silêncio de nossos abraços. Ainda prec
O fruto do furto é moral na intimidade não há vulgaridade. o furto do fruto nasceu mortal na intimidade não há indescência. *** ML, outubro 2006

_sustância [poema?]

relógios relógicos Substância do tempo instância do instante prismas numéricos ponteiros pesados apontam, persistem perfuram a massa insustentável da vida passando entrando saindo andando sombra solitária navegando terra adentro procurando um refúgio lunar dígitos despidos repetem repetem repetem concordam contínuos relógios, relógicos parados não mudam o tempo a nos comer ***