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Mostrando postagens de outubro, 2004

_cerrado [poema]

me perdi no cerrado e vi uma solidão estranha nada além do canto da ema do rouco tropeço de meu cavalo apenas eu e os pastos iluminados pelo silêncio do sol alto apenas o silêncio e a vida seca dos seres cerrado me perdi e senti que tinha perdido um amigo bom senti que havia ausência de mim na minha presença na solidão infinita ínfimo e etéreo me percebi perdido tão pequeno um grão de cavalo entre vacas distocidas o calor soporífero distorcendo a curva do horizonte amarelecido me perdi no cerrado e vi a solidão da vida em paz descansei a vista cansada de barulhos sonsos e o que vi me trouxe paz de eremita ermitão não solidão

_no onibus, na cidade [conto]

“Hum, assim, com força. Me pega de jeito... ah, que gostoso.” Annanda é uma bela mulher. Ou, ao menos, é o que diriam grande parte dos homens que a conhecem. “Vai, vai... não pára, não pára... hum, se o Caetano fosse assim!”. Mas uma idiota, diriam outros, pois ela não trai o marido de jeito nenhum. E fala mal dele o tempo todo... vai entender! “Ai, adoro isso... que loucura! Hum, vai, vai.” Muitos, principalmente os colegas de trabalho, já o apelidaram de “o frouxo da Anna”, veja só, de tanto que ela fala mal dele. Alguns justos – são poucos – sabem que não é bem assim (os que têm mais de sessenta anos e sabem que nada vão conseguir com ela). “Vai, me bate na bunda, vai, vai, ah, vai, mais forte, mais... se o Caetano fosse assim”. Mas, com todos os poréns e frustrações, é uma mulher fiel e nunca trairá Caetano. “Ah, não... logo agora! Que merda. Ah, não... 06:30... aaaah!”. O despertador tocou. Annanda se levanta, mesmo com toda a raiva que sente. Nem olha para o namorado, que não se