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Mostrando postagens de agosto, 2006

Explicação de Contos Noturnos

A idéia dos Contos Noturnos é bem simples: contar histórias curtas que se envolvem, se amarram ao longo das diversas tramas. Não há paralelismos nas histórias, tentei seguir uma certa linearidade temporal, mas me permite sair desse gesso sem o menor sentimento de culpa. Portanto se as histórias não forem lidas na seqüência (que eu, extremamente inteligente, publiquei ao contrário), talvez pareçam cenas desconexas, o que não deixam de ser, afinal de contas. No Iceberg de Hemingway vive tudo aquilo que não vemos além da cena, mas que sabemos estar ali. É isso. ML Agosto de 2006

_contos noturnos [10/10]

10. Alcagüete As paredes das casas se pintavam alternadamente de vermelho e branco. As caras dos moradores que se aboletaram nas janelas para ver o espetáculo também se alternavam coloridamente entre o sorriso e o espanto. Algumas pessoas já saiam de suas casas e se aglomeravam perto das viaturas paradas em frente à casa de Maurício sem mesmo sair de dentro de seus roupões e seus chinelos de meias quentes e alvas. Àquela hora da noite, em um bairro tão nobre, poucos não acordariam para ver o que poderia estar acontecendo. Sr. Pedro do Cáucaso, o sr. é acusado de latrocínio e está preso. Tem direito a um advogado. Se não puder pagar pelos serviços o Estado... A ladainha do policial era dita para a câmera de TV, não para o preso. Os jornais – sensacionalistas todos – não perderiam a chance de botar no ar a prisão do primo do Deputa Maurício de Lima dentro de sua casa, acusado de roubo seguido de homicídio. Pior, a situação da prisão era terminantemente pífia: um dos convidados do deputa

_contos noturnos [9/10]

9. Em casa Sem nenhum abraço eles se abraçam. São primos. Coisa melhor existe em família. Mas veja, o clima pesou. Embaraço. Embaraço total. E aí. E aí. Era para ser um churrasco em família. Na verdade foi. Um belo churrasco. Muitos amigos e poucos familiares. Coisas da vida. Ele entra para pegar uma cerveja (todas estavam lá fora, no frízer – freezer, porra –, todas). Vai além da cozinha. Há vozes lá. Baixas e envergonhadas. Todos assistem à TV sem pisar no tapete. É a família. Tapete grande e sóbrio. Se não saiu de uma revista de decoração no mínimo é de bom gosto. Voltar? Todos parecem encantados ali. Lá fora há risos que chamam para mais um gole. Conversas que terminam em risos. Saiu. Às vezes queremos nos esconder. Às vezes não somos percebidos. Coisas que acontecem. Maurício entrou na conzinha ainda rindo. Pedro folheava um jornal velho que estava sobre o balcão. Ele fingia ler o jornal para poder observar o primo de canto-de-olho. Maurício: Eu vi isso. Foi camarada seu que fez o