Ela me assombra. É inegável. Assombra. Sua presença, seus passos, seu corpo. Assombra. Porra, é mulher do cara, sei disso. Olho daqui. Olho de novo. Ela olha, sei que olha. Está estampado. E isso me assombra. Lembro da primeira vez que a vi. Veio silenciosa na foto colada na parede. Na foto. Depois, casualmente ela apareceu de novo. Veio da boca do cara: minha mulher. O nome soou doce e concreto. Mas de repente flutuou em flatulências daquele idiota. Preferi perder essa imagem. Então ela veio novamente. Primeiro de costas, em um passo curto, urbano, leve. As pernas subiam bem formadas, a calça pouco sobrava acima do limite entre o fim da calcinha e o vácuo imaginário que me permiti fluir por alguns dias. A cintura apareceu feita para abraçar e apertar em carinhos tão puros que seriam até infantis. Vi então sua nuca mal coberta pelos cabelos e os pêlos que pediam: cheirem-me. Me assustou, assim, de costas. Parecia algo que aqui não poderia estar, não poderia existir. Parecia que aquelas costas eram a mulher mais perfeita do mundo. Saí. Mas logo voltei. Estar alí, assim, tão perto e tão perto que era perto demais me assustou. Então ela apareceu denovo: veio em um sorriso de perfil. Um sorriso sexual. Um sorriso meu. Ela parou, olhou de cabeça baixa para todos e ficou assim, falando ois que não me pertenciam. Ela não me viu. Eu sei que não. Sentou-se e se permitiu olhar sem querer. Mostrou a curva de seus seios leves, de sua boca cheia de segredos. E apagou. Lembro então que ardia tenso. Sua presença simplesmente me transtornou. Então ela se levantou e veio em minha direção (eu ficava, de qualquer forma, na saída, no caminho obrigatório que ela deveria fazer). Mas veio decidida e sem me olhar. Foi-se.
Quando ela voltou, fui a primeira pessoa que viu. Seus olhos pararam duas vezes no mesmo ponto trêmulo que eu deveria ser, seguraram por um momento uma seriedade concentrada em imagens tão distantes quanto o funcionamento de um foguete. E sorriu levemente, escapou um "oi" falhado, cheio de brilho. Firmei minhas mãos no mouse e no teclado e, depois de retribuir o brilho dos olhos e o "oi" mudamente, me perdi nos horizontes que limitavam, naquele momento, meu ser.
Hoje ela veio. Veio com a mesma firmeza de sempre, com a mesma presença. Mas veio para me ver. O cara? Estava lá, no mesmo lugar de sempre, pedindo alguma esmola intelectual. Oi, Oi. Nos olhos, no sorriso, no estômago e no nariz, no turbilhão da boca que flamejou a outra boca. Mas ela veio. E foi-se.
Quando ela voltou, fui a primeira pessoa que viu. Seus olhos pararam duas vezes no mesmo ponto trêmulo que eu deveria ser, seguraram por um momento uma seriedade concentrada em imagens tão distantes quanto o funcionamento de um foguete. E sorriu levemente, escapou um "oi" falhado, cheio de brilho. Firmei minhas mãos no mouse e no teclado e, depois de retribuir o brilho dos olhos e o "oi" mudamente, me perdi nos horizontes que limitavam, naquele momento, meu ser.
Hoje ela veio. Veio com a mesma firmeza de sempre, com a mesma presença. Mas veio para me ver. O cara? Estava lá, no mesmo lugar de sempre, pedindo alguma esmola intelectual. Oi, Oi. Nos olhos, no sorriso, no estômago e no nariz, no turbilhão da boca que flamejou a outra boca. Mas ela veio. E foi-se.
Comentários
Dê uma olhadinha lá, mudei o final, estava mesmo muito truncado! valeu pela dica, acho que ficou melhor...
Seu e-mail logo vem, me falta ainda inspiração!rs
Faz tempo que não brinco de pimenta, aliás,tem me feito falta.
bjos! adorei os textos!