Pular para o conteúdo principal

_sustância [poema?]

relógios relógicos
Substância do tempo
instância do instante
prismas numéricos

ponteiros pesados
apontam, persistem
perfuram a massa
insustentável
da vida passando
entrando
saindo
andando

sombra solitária
navegando terra adentro
procurando um refúgio

lunar


dígitos despidos
repetem
repetem
repetem
concordam contínuos

relógios, relógicos
parados
não mudam o tempo
a nos comer


***

Comentários

Talita Pinheiro disse…
Comer?
Penso em alguma coisa como engolir sem mastigar. Sabe, o tempo passa e parece que este embalo nada faz além de dar um puta sono. Letargia. Ou sei lá.
Vodca por favor...
Anônimo disse…
Mauro seu danado...
Esse poema também é meu, lembra?
Acho que a gente escreveu na praia e foi tomando cerveja.
Unknown disse…
É verdade! Desculpe, para vc ver que nem de tudo eu sei quem quer a autoria... rs.

Beijos. Te amo.

Mauro

Postagens mais visitadas deste blog

_contos noturnos [8/10]

8. Memorial Porra, aquilo é bom demais. Sempre comi muito daquilo. Minha mãe dá um nome que eu acho feio, mas é esse o nome. Eu comia com meu primo quando era pequeno. Antes de ele se dar bem. Agora a gente se vê pouco, ele virou granfa, se mete com política e tudo. Mas vem da mesma manjedoura que eu: era pobre de marre. Lá em Serra Bonita a gente aprontava todas. E mais algumas. Um dia a Telesp colocou uma torre de celular lá. Dessas de retransmissão. A gente ia nadar na mesma lagoa todos os verões, e no caminho a gente passava pela torre. Foi a primeira caganeira que tive. Meu primo falou (ele era mais velho, a turma toda o obedecia. Eu mais que os outros) "hoje à noite a gente vem aqui, ó" e apontou para a torre. Era pra subir no mais alto e ver a cidade lá de cima. Deu medo na mesma hora, antes mesmo de pisar no ferro da escada. Nadamos, voltamos à tardezinha. Oito horas ele saiu da casa dele e eu vi. Me escondi debaixo da cama. Cadê o Pedro, Tia Creuza? Não sei, não. Dev...

_breve romance daquela mulher [cena psicológica]

Ela me assombra. É inegável. Assombra. Sua presença, seus passos, seu corpo. Assombra. Porra, é mulher do cara, sei disso. Olho daqui. Olho de novo. Ela olha, sei que olha. Está estampado. E isso me assombra. Lembro da primeira vez que a vi. Veio silenciosa na foto colada na parede. Na foto. Depois, casualmente ela apareceu de novo. Veio da boca do cara: minha mulher. O nome soou doce e concreto. Mas de repente flutuou em flatulências daquele idiota. Preferi perder essa imagem. Então ela veio novamente. Primeiro de costas, em um passo curto, urbano, leve. As pernas subiam bem formadas, a calça pouco sobrava acima do limite entre o fim da calcinha e o vácuo imaginário que me permiti fluir por alguns dias. A cintura apareceu feita para abraçar e apertar em carinhos tão puros que seriam até infantis. Vi então sua nuca mal coberta pelos cabelos e os pêlos que pediam: cheirem-me. Me assustou, assim, de costas. Parecia algo que aqui não poderia estar, não poderia existir. Parecia que aquelas...