Pular para o conteúdo principal

_possibilidades [poema]

"Ele faria da queda um paço de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro" (Fernando Sabino, in O encontro Marcado)



pode ser que eu sinta
pode ser de pronto
talvez seja uma procura
talvez um encontro


pode ser que eu viva
pode ser o fim
talvez não seja a sorte
talvez seja, para mim


pode ser que eu acorde
pode ser que eu esqueça
talvez seja apenas o frio
talvez, alguém que me aqueça


pode ser uma dança
pode ser
talvez eu dance
talvez, dance


pode ser que eu finja
pode ser que eu respeite
talvez eu veja
talvez eu seja


pode ser apenas medo
pode ser desejo
talvez seja respeito
talvez seja momento


pode ser ilusão
pode ser bonito
talvez seja no chão
talvez seja um mito


pode ser real
pode ser ruim
talvez seja estampa
talvez seja carmim


pode ser uma flor
pode ser cerveja
talvez seja calor
talvez seja cereja

***

novembro de 2005

Comentários

Anônimo disse…
Não tão mau.

Postagens mais visitadas deste blog

_sustância [poema?]

relógios relógicos Substância do tempo instância do instante prismas numéricos ponteiros pesados apontam, persistem perfuram a massa insustentável da vida passando entrando saindo andando sombra solitária navegando terra adentro procurando um refúgio lunar dígitos despidos repetem repetem repetem concordam contínuos relógios, relógicos parados não mudam o tempo a nos comer ***

_contos noturnos [8/10]

8. Memorial Porra, aquilo é bom demais. Sempre comi muito daquilo. Minha mãe dá um nome que eu acho feio, mas é esse o nome. Eu comia com meu primo quando era pequeno. Antes de ele se dar bem. Agora a gente se vê pouco, ele virou granfa, se mete com política e tudo. Mas vem da mesma manjedoura que eu: era pobre de marre. Lá em Serra Bonita a gente aprontava todas. E mais algumas. Um dia a Telesp colocou uma torre de celular lá. Dessas de retransmissão. A gente ia nadar na mesma lagoa todos os verões, e no caminho a gente passava pela torre. Foi a primeira caganeira que tive. Meu primo falou (ele era mais velho, a turma toda o obedecia. Eu mais que os outros) "hoje à noite a gente vem aqui, ó" e apontou para a torre. Era pra subir no mais alto e ver a cidade lá de cima. Deu medo na mesma hora, antes mesmo de pisar no ferro da escada. Nadamos, voltamos à tardezinha. Oito horas ele saiu da casa dele e eu vi. Me escondi debaixo da cama. Cadê o Pedro, Tia Creuza? Não sei, não. Dev...

_breve romance daquela mulher [cena psicológica]

Ela me assombra. É inegável. Assombra. Sua presença, seus passos, seu corpo. Assombra. Porra, é mulher do cara, sei disso. Olho daqui. Olho de novo. Ela olha, sei que olha. Está estampado. E isso me assombra. Lembro da primeira vez que a vi. Veio silenciosa na foto colada na parede. Na foto. Depois, casualmente ela apareceu de novo. Veio da boca do cara: minha mulher. O nome soou doce e concreto. Mas de repente flutuou em flatulências daquele idiota. Preferi perder essa imagem. Então ela veio novamente. Primeiro de costas, em um passo curto, urbano, leve. As pernas subiam bem formadas, a calça pouco sobrava acima do limite entre o fim da calcinha e o vácuo imaginário que me permiti fluir por alguns dias. A cintura apareceu feita para abraçar e apertar em carinhos tão puros que seriam até infantis. Vi então sua nuca mal coberta pelos cabelos e os pêlos que pediam: cheirem-me. Me assustou, assim, de costas. Parecia algo que aqui não poderia estar, não poderia existir. Parecia que aquelas...