6. Favela em cores
Pedro Dado e Celsinho 38 conversavam sentados em um mureta da rua 16. Alí faziam ponto já há quase três meses. Bom tempo pra uma boca. Bebiam conhaque em uma garrafa que estava sobre o Agora do dia. O jornal tem mais sangue que um banco de sangue.
E aí, Netinho, vendeu muito hoje?
Que nada, Trêsoito, o trem tava devagar hoje. Dá um gole dessa coroti aí. Conhaque? E aí, Dado. Beleza?
Bebe aí.
No fim da tarde a rapaziada da comunidade costuma se reunir nos bares da área interna, longe do movimento de quem não é morador da favela. Alí na boca pouca gente pára. Só quem é da trutagem, ou seja, pouca gente. Netinho só fazia a correria para eles, mas isso foi antes. Ele tinha planos de viver até depois dos 20 anos e pra isso foi vender nos trens da cidade, um mercado que crescia a cada dia. No entanto não deixou de fazer a correria discretamente, era um bom aviãzinho. E o pessoal do movimento gostava dele.
Então, Neto, você viu que a quadra tá quase pronta? Mas não sei não. Ainda sou mais o campinho.
É. Aí, Dado, o Trêsoito é ligeiro. Tem gente jogando agora? Vou dar um pulo lá.
Tem nada. Só os moleques. 'Cês viram o sobrinho do Manivela jogando? Manda muito! Vai ser profissional o moleque.
O moleque é bom mesmo, Trêsoito. Ligeiro que só.
Né?
A mão de Trêsoito em sinal de pare fez com que encerrassem a conversa por enquanto. Os dois olharam na mesma direção que ele olhava. Viram dois garotos que vinham, com cara de medo, na direção deles. Dois boyzinhos.
Tem de 20?
Taí.
Duas. Mais uma bucha dois por um.
Taí. Sessenta.
Taí. Falou.
Aí, Trêsoito, Dado, liga só: esses aí tavam no meu último trem. Liga? ‘Tavam falando dum cara que mataram, parece que era pai do namorado de uma daquelas meninas ali, ó? Tão vendo?
Havia duas garotas com os rapazes. Eles haviam visto.
Então, Neto... é esse aqui?
Dado estendeu os jornal que estava sob a garrafa de conhaque e mostrou uma matéria. Parece que haviam acertado três em um bar calmo de uma bairro chique, mas um deles não morreu. Ele era também o mandante. Ao menos foi isso que Netinho entendeu do que leu. Estudou pouco.
Então, não sei, não, Dado. Mas só pode ser. É no mesmo lugar, lá, tal. Que foi Trêsoito?
Nada, truta. Os moleques tão cherando ali mesmo. Já pedi pra não fazerem isso.
Vamo lá, Trêsoito?
Não. Só mostra o berro.
Netinho assobiou. Os garotos olharam para eles. Dado mostrou sua ponto nove e eles entenderam. Era hora de ir embora.
***
continua
ml
Pedro Dado e Celsinho 38 conversavam sentados em um mureta da rua 16. Alí faziam ponto já há quase três meses. Bom tempo pra uma boca. Bebiam conhaque em uma garrafa que estava sobre o Agora do dia. O jornal tem mais sangue que um banco de sangue.
E aí, Netinho, vendeu muito hoje?
Que nada, Trêsoito, o trem tava devagar hoje. Dá um gole dessa coroti aí. Conhaque? E aí, Dado. Beleza?
Bebe aí.
No fim da tarde a rapaziada da comunidade costuma se reunir nos bares da área interna, longe do movimento de quem não é morador da favela. Alí na boca pouca gente pára. Só quem é da trutagem, ou seja, pouca gente. Netinho só fazia a correria para eles, mas isso foi antes. Ele tinha planos de viver até depois dos 20 anos e pra isso foi vender nos trens da cidade, um mercado que crescia a cada dia. No entanto não deixou de fazer a correria discretamente, era um bom aviãzinho. E o pessoal do movimento gostava dele.
Então, Neto, você viu que a quadra tá quase pronta? Mas não sei não. Ainda sou mais o campinho.
É. Aí, Dado, o Trêsoito é ligeiro. Tem gente jogando agora? Vou dar um pulo lá.
Tem nada. Só os moleques. 'Cês viram o sobrinho do Manivela jogando? Manda muito! Vai ser profissional o moleque.
O moleque é bom mesmo, Trêsoito. Ligeiro que só.
Né?
A mão de Trêsoito em sinal de pare fez com que encerrassem a conversa por enquanto. Os dois olharam na mesma direção que ele olhava. Viram dois garotos que vinham, com cara de medo, na direção deles. Dois boyzinhos.
Tem de 20?
Taí.
Duas. Mais uma bucha dois por um.
Taí. Sessenta.
Taí. Falou.
Aí, Trêsoito, Dado, liga só: esses aí tavam no meu último trem. Liga? ‘Tavam falando dum cara que mataram, parece que era pai do namorado de uma daquelas meninas ali, ó? Tão vendo?
Havia duas garotas com os rapazes. Eles haviam visto.
Então, Neto... é esse aqui?
Dado estendeu os jornal que estava sob a garrafa de conhaque e mostrou uma matéria. Parece que haviam acertado três em um bar calmo de uma bairro chique, mas um deles não morreu. Ele era também o mandante. Ao menos foi isso que Netinho entendeu do que leu. Estudou pouco.
Então, não sei, não, Dado. Mas só pode ser. É no mesmo lugar, lá, tal. Que foi Trêsoito?
Nada, truta. Os moleques tão cherando ali mesmo. Já pedi pra não fazerem isso.
Vamo lá, Trêsoito?
Não. Só mostra o berro.
Netinho assobiou. Os garotos olharam para eles. Dado mostrou sua ponto nove e eles entenderam. Era hora de ir embora.
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